Ontem como hoje.
" Todas as conjunturas politicas cunham uma terminologia que lhes serve de identificação, e que dispensa, em várias emergências, a necessidade de formulação de um pensamento adaptado às exigencias dos interesses em causa. O verbalismo preenche os espaços vazios, e o simples discurso vai entretendo a falta de propostas, e ocultando a perda definitiva de valores aos quais não se acudiu a tempo. Neste processo, a omissão habitual, quando não sistemática, da referencia a palavras que invocam valores não participados ou combatidos pelas forças em presença, assume uma inegável importancia sintomática porque o silencio é, no processo politico, uma fonte documental tão importante como o discurso. Aquilo que esconde está em luta com aquilo que ostenta. Esta comum observação metodológica tem particular importancia sempre que os instrumentos ideológicos e de comunicação ficam monopolizados seja qual for a composição do bloco do poder que tenha conseguido capturar tais instrumentos.
Não parece necessário qualquer esforço para reconhecer que o processo em curso requer atenção para este problema, não sendo também dificil de admitir que muitas das palavras, que se tornam típicas, ilustram pouco a lingua portuguesa que se vai tornando corrente. Compreende-se que algumas pessoas que falam e escrevem encontrem nessa inovação um recurso pessoal indispensavel para expressarem o seu vigor intelectual e firmeza de convicções, mas é pena que o simples acaso torne algumas raras vezes impossivel deixar de as ouvir ou de a ler. Não parece indispensavel estender à linguagem uma tal paixão ideológica pela igualdade que acaba por dar cidadania igual à palavra e ao palavrão, à critica de opiniões e ao insulto a quem opina, ao combate ao governo e á difamação de quem governa, ao repúdio das ideias e à degradação de quem as sustenta. Tal vulgaridade, que muito frequentemente apenas procura esconder a fraqueza, não parece fazer falta para dar carácter a nenhuma conjuntura mas, naturalmente, a decisão pertence aos responsaveis pela mesma."
Adriano Moreira, O Novissimo Príncipe, análise da revolução, 1977, editora intervenção.
Não parece necessário qualquer esforço para reconhecer que o processo em curso requer atenção para este problema, não sendo também dificil de admitir que muitas das palavras, que se tornam típicas, ilustram pouco a lingua portuguesa que se vai tornando corrente. Compreende-se que algumas pessoas que falam e escrevem encontrem nessa inovação um recurso pessoal indispensavel para expressarem o seu vigor intelectual e firmeza de convicções, mas é pena que o simples acaso torne algumas raras vezes impossivel deixar de as ouvir ou de a ler. Não parece indispensavel estender à linguagem uma tal paixão ideológica pela igualdade que acaba por dar cidadania igual à palavra e ao palavrão, à critica de opiniões e ao insulto a quem opina, ao combate ao governo e á difamação de quem governa, ao repúdio das ideias e à degradação de quem as sustenta. Tal vulgaridade, que muito frequentemente apenas procura esconder a fraqueza, não parece fazer falta para dar carácter a nenhuma conjuntura mas, naturalmente, a decisão pertence aos responsaveis pela mesma."
Adriano Moreira, O Novissimo Príncipe, análise da revolução, 1977, editora intervenção.
Sem comentários:
Enviar um comentário