2010/03/19

Contra noticias espectáculo para consumo acéfalo





Nota prévia: qualquer perda de uma vida é sempre de lamentar. Sempre.

Situação 1

A polícia manda parar o cidadão X.

O cidadão X põe-se em fuga.

A polícia persegue o cidadão X por diversas ruas não
conseguindo que este pare e imobilize a sua viatura.

A polícia procura, com recurso a arma de fogo, que o condutor pare e imobilize a sua viatura.

O cidadão X é atingido e vem a falecer.

Comentários mais lidos e ouvidos: a policia é perigosa não se pode matar alguém só porque não parou (esquecem-se sempre de acrescentar e fugiu).

Situação 2

A polícia manda parar o cidadão X.

O cidadão X põe-se em fuga.

A polícia persegue o cidadão X por diversas ruas não
conseguindo que este pare e imobilize a sua viatura.

A polícia procura que o condutor pare e imobilize a sua viatura sem recurso a arma de fogo.

No decurso da perseguição o cidadão Y, que andava a passear o seu cão, é atropelado mortalmente pela viatura do cidadão X que se encontrava em fuga .

Comentários mais lidos e ouvidos: a polícia é incompetente. Devia ter utilizado todos os meios à sua disposição, incluindo as armas de fogo, para impedir que o cidadão X pusesse em perigo, com a sua fuga, a vida de cidadãos inocentes.

O que nós devíamos perguntar é: a partir do momento em que alguém desobedece a uma ordem de paragem da policia e se coloca em fuga quais são os comportamentos, por parte das autoridades, que nós achamos aceitáveis?

O que é que nós enquanto sociedade estamos dispostos a tolerar, aceitar, em nome da vida de alguém que voluntariamente potencia o risco para a vida de outros?

Estas perguntas têm de ser respondidas sem ter em atenção o resultado concreto de algumas actuações.

A polícia manda parar o cidadão X.

O cidadão X põe-se em fuga.

A resposta tem de ser dada aqui. Falar quando já se conhece o resultado final é fácil e próprio de sociedades doentes e incapazes.

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