2009/11/03

Já não era sem tempo


Segundo o Diário as Beiras de hoje, a Universidade Internacional da Figueira da Foz vai mesmo fechar portas.

A Universidade Internacional da Figueira da Foz é um exemplo, entre muitos, do que foi a expansão do ensino universitário privado em Portugal. Na esmagadora maioria dos casos nunca houve um projecto de ensino. O objectivo era facturar e passar diplomas.

Muito se têm dito sobre a necessidade de desenvolvimento e expansão do ensino privado em Portugal.

Na maioria dos casos a estratégia é velha. Pega-se numa verdade para disfarçar toda a aldrabice que verdadeiramente sustentou esses projectos. Não me refiro a aldrabices relacionadas com falsos diplomas, burlas e passagens aos domingos. Isso é outro departamento.

A aldrabice a que me refiro é a de que o crescimento destas universidades foi motivada pelo acréscimo de alunos e a falta de resposta pelo sector público.

A este último parágrafo junta-se a velha estratégia. De facto houve um aumento de alunos. Houve também uma incapacidade do sector público em dar resposta.

A velha estratégia é confundir esta verdade com a falta de verdadeiros cursos técnico profissionais e tecnológicos e com disciplina nas escolas. Chegados ao 10 ano o sistema não tinha nada a oferecer a quem não quisesse ir para a Universidade. Os alunos eram “obrigados” a martelar 3 anos, sem a pressão de procurar uma alternativa formativa, até à candidatura à universidade. Não tinham conhecimentos nem base para o fazer mas outra alternativa não havia ( eu foi um exemplo disso).


Os cursos que cresceram foram aqueles que não careciam de grandes bases de estudo pelos estudantes nem de investimento por parte dos estabelecimentos de “ensino”: Direito Gestão, Psicologia e todas as restantes áreas das “humanísticas”.


As médias baixaram e tudo se tornou mais fácil.

Esta foi a principal razão do acréscimo de alunos. Abriu-se assim uma excelente oportunidade a um ensino pseudo universitário de passagem de diplomas.

Estas universidades tornaram-se mecanismos para a docência universitária excedentária poder dar “aulas”, para catedráticos terem regências bem pagas sem trabalho e para políticos a meio tempo.

O próprio ensino universitário passou a ser, quase, uma coisa de “família”.

Se quisermos ter um verdadeiro ensino superior temos de primeiro ver o que já existe em Coimbra, Leiria e Aveiro. Ver quais são as lacunas e preenche-las com projectos de futuro. A figueira pode ser uma alternativa ou complemento a esses pólos universitários.

Se não for este o caminho o máximo que a Figueira pode esperar é ser a hospedeira. No fim, esgotados os recursos, levantam a tenda e vão embora.

Antes de procurar alternativas é preciso fazer escolhas. São estas que se impõem neste momento.

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